Crítica/Resenha: Star Trek - Sem Fronteiras
Até o filme de 2009 eu nunca tinha assistido nada de Star Trek. E olha que material pra ser assistido é o que não falta. Sempre me interessei mais por Star Wars. E não sei, honestamente, a razão pela qual nunca tive interesse por essa franquia tão rica e vasta. Mas sei exatamente o motivo pelo qual passei a me interessar: JJ Abrams. E talvez por conta de seu talento eu tenha lamentado tanto não ter conhecido esse mundo antes. O filme e sua sequência de 2013 são incríveis.
Porém, o diretor deixou sua cadeira logo após o segundo filme e foi pra dita 'concorrência', fazendo, mais uma vez, um excelente trabalho em Star Wars: O despertar da força. Talvez tenha levado com você a capacidade de fazer algo incrível: o 3º filme desta nova fase da franquia não traz de volta toda a magia e encantamento que os dois primeiros tiveram.
Não se engane: o filme é ótimo! Só não é incrível como seus antecessores.
Dessa vez, a tripulação da Enterprise acaba caindo numa armadilha e precisa abandonar a nave depois de ser intensamente atacada por inimigos. É um momento bem triste quando Capitão Kirk abandona, por último, a nave e ela se choca contra as rochas de um planeta onde todos caem. Boa parte do filme mostra a equipe dividida tentando sobreviver e se achar.
Isso é um ponto positivo do filme: dar mais espaço para os personagens considerados secundários. Todos tem bastante tempo em tela, assim como participação importante na trama. Arrisco dizer que duas mulheres são fundamentais no decorrer da história: Uhura e Jaylah. A primeira já vinha se destacando nos últimos, e nesse filme não apenas desempenha muito bem suas funções habituais, como também, ao sair da ponte, comete um ato de sacrifício para salvar James Kirk e proteger a arma que o inimigo busca. Depois ainda o enfrenta bravamente, quando em seu planeta. Além de ainda ser importante para o resgate e reunião da tripulação. Ainda há espaço (ainda que breve) para mostrar sua relação com Spock.
Já a segunda, é uma personagem nova que é fundamental. Jaylah mora numa nave antiga, a USS Franklin, que estava desaparecida há mais de 100 anos. Ela manja de tecnologia e além de passar bastante tempo consertando sua casa, ela a manteve incógnita durante todo esse tempo usando uma camuflagem. Ela também também tem grande habilidade de luta, além disso tem altos paranauês que se revelam muito úteis em batalha. Jaylah gosta de ouvir música alta enquanto faz seus ajustes em sua 'casa', especialmente hip hop, pois 'a gritaria e barulheira' lhe agrada.
A música e a trilha sonora como um todo, aliás, é um dos melhores aspectos do filme. Mas isso já deve ser esperado quando vemos o nome Michael Giacchino nos créditos. Num dos momentos de clímax do filme é Sabotage, dos Beastie Boys que dá o tom perfeito à sequência. E a canção foi uma escolha extremamente feliz, caiu como luva na cena. Eu mesmo que nem curti tanto o som dos caras, bati cabeça na cena e abri um largo sorriso quando reconheci o som, tal qual muitos outros na sala.
(Se você ainda não conhece, ou não está lembrado de Sabotage, clique aqui e assista esse clipe maravilhoso, bem ao estilo Hermes & Renato)
Todos os personagens são bem utilizados e tem suas características exploradas. Claro que Kirk e Spock acabam sendo os protagonistas, mas Magro/Bones, Chekov, Sulu, e especialmente Scotty estão ótimos (Claro néI Simon Pegg, bitches!). Temos belas sequências de ação, uma delas de tirar o fôlego (a fuga da tripulação do planeta em que caíram a bordo da 'casa' de Kaylah. As locações também são muito boas e proporcionam uma bela fotografia. A cidade de Yorktown é linda e caótica. É muito louco tentar entender como sua gravidade funciona. Gravidade, aliás, que tem grande importância na 'luta final' entre Kirk e Krall. As cenas ficaram muito emocionantes e bem feitas.
Aproveitando o link de Krall, acho que o vilão desse terceiro filme também não foi muito bom (ou seria ruim?). Acho que Khan, no segundo filme, metia mais medo. O plano dele é ok, a motivação nem tanto. Mas ele não passa o medo que deveria. Pra mim, o melhor momento dele é quando descobrimos que e o ator que o interpreta é Idris Elba, já no último ato do filme (pelo menos eu só descobri nessa hora).
Vale mencionar que há tempo no filme para uma homenagem à Leonard Nimoy, o Dr. Spock clássico da franquia que morreu em 2015. Assim como também são homenageados os atores da primeira tripulação da Enterprise.
Infelizmente não sei se há uma menção do tipo 'in memorian' ao ator Anton Yelchin, que interpreta Chekov nos créditos finais, já que o pessoal da sala em que assisti simplesmente parou a exibição logo no início dos créditos ¬¬ .... Mas soube aqui que há um easter egg que me passou batido: numa cena, Kirk faz um brinde aos amigos que não estão mais entre nós (o que inicialmente se referia àqueles que morreram no ataque à Enterprise), e logo a imagem corta pra Chekov.
No fim das contas, Star Trek: Sem fronteiras é um grande filme de ficção científica, um blockbuster divertido que tem grandes momentos. Entretanto, deixa um pouco a desejar quando comparado aos seus predecessores. Não sei até que ponto Justin Lin, o diretor do filme (que carrega quatro dos trocentos Velozes e Furiosos no currículo) influencia nisso. Mas sei que provavelmente JJ Abrams poderia ter feito um trabalho melhor, se lhe permitissem conciliar as duas maiores franquias de sci-fi de todos os tempos. Ainda assim, se você curte o estilo, vale a pena gastar seu dinheiro e assistir no cinema. Se não conhece, também vale a pena conhecer, porém, recomendo uma mini maratona com os dois primeiros no Netflix.