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A vida adulta e a ansiedade

A vida adulta é muito difícil. Eu pensei em dizer que é uma droga, uma merda, um saco. Mas não seria 100% verdade. Ela até é, mas apenas em alguns poucos momentos. No geral, não é assim, só coisas ruins. Por isso, digo apenas que é difícil.


Pra qualquer pessoa comum a vida pode ser difícil, mas não aquele difícil desafiador, que nos motiva. Me refiro a justamente ao contrário, o difícil que é praticamente impossível, que nos desmotiva e que não dá esperança de ter uma recompensa.


Quando se é um adulto com problemas psicológicos, emocionais e/ou afetivos, isso se potencializa de forma incalculável. Conviver com essas questões e ainda lidar com as atribulações da vida adulta é um desafio diário que se arrasta e pode levar a vontade incessante de desistir.


Há muitos anos convivo com problemas como depressão e ansiedade. Depressão, eu já sabia faz tempo. Mas nunca ouvi de um especialista e, talvez por isso, nunca levei muito a sério. Nem os outros a minha volta.


Já a ansiedade só fui descobrir recentemente. Não sabia exatamente o que era isso, achava que era algo mais simples, não entendia nem conhecia a complexidade da doença. Essa foi diagnosticada depois que procurei ajuda psicológica. O único tratamento real que fiz foi terapia por um curto período. Ajudou, mas não o suficiente, apenas por hora.


E olha que tenho uma 'rede' de ajuda que é boa, muito mais do que muitos tem. Uma esposa com uma paciência incrível e muito carinho pra me acalmar e mostrar as belezas do mundo. Além de uma filha ainda mais incrível, que é um absurdo de inteligente, engraçada e um carinho que dá vontade de agarrar pra sempre. Há quem diga que ela veio ao mundo para ajudar e trazer alegria a todos ao seu redor. Eu acredito muito nisso, ela veio no momento certo de nossas vidas. Timing perfeito. Mas acredito ainda mais que ela está aqui, por mim, pra me ajudar a ser uma pessoa melhor. Pra me ajudar e ponto.


Eu nem imagino como deve ser pra quem não tem isso. Por mais que eu já tenha me sentido muito mal na vida, eu sempre tive consciência de tudo que eu tinha. De que havia muitos piores que eu. Por outro lado, contudo, isso também é ruim. Pois quando você sabe que, em teoria, não tem razão pra estar naquela situação, você se sente ainda pior. Pois parece que você não sabe valorizar o que tem. Que poderia ser muito pior e ainda assim você 'está reclamando'.



Na minha adolescência tardia (como costumo dizer), que foi dos 17 aos 21 anos, eu atingi o auge dessa depressão. Talvez tenha sido ali que ela nasceu. Porém, hoje, aos 33, os reflexos estão bem latentes, especialmente quando aliados com crises de ansiedade pontuais.


Eu parei de ver noticiário. Sou capaz de passar o dia inteiro assistindo apenas programas esportivos, desde as mesas redondas e bate-papos, até os jogos propriamente ditos, sejam eles dos principais clubes do mundo, até aos lanternas da segunda divisão. Claro que eu gosto de esportes, especialmente futebol. Mas vejo isso muito mais como fuga da realidade.


Aliás, esse é um recurso recorrente na minha vida. Convivo com uma eterna síndrome do Peter Pan. E tem funcionado pra mim, por isso a abracei. Mas esse é um estilo de vida que adultos não podem manter por muito tempo, a não ser que você tenha muito dinheiro.


Não dá pra fugir por muito tempo das responsabilidades. Não dá pra passar o dia inteiro brincando. Talvez um dia inteiro, até dê. Talvez, até seja possível que esse dia inteiro não traga nenhuma consequência negativa. Mas isso não é o padrão. Ser Peter Pan cobra um preço altíssimo. Em vários aspectos, mas em especial, o preço real mesmo, o aspecto financeiro.


Me mudei há dois meses. Fugi do Rio de Janeiro. Há alguns anos pensava nessa mudança. Não digo que planejei, pois na verdade não o fiz de fato. Aliás, planejamento nunca foi meu forte. Não é o forte do Peter Pan. E até por essa razão, ainda não dá pra dizer que hoje sou um adulto de fato.


Estamos na nossa 'própria casa'. As aspas se devem ao fato de ser um apartamento alugado, ou seja, tecnicamente, nem é própria, nem é casa. Não temos mais nossas famílias por perto pra nos ajudar, seja com as contas, seja com apoio na hora de cuidar da Alice, seja com apoio psicológico mesmo que inconsciente, ou até mesmo naqueles dias que dá preguiça de fazer as tarefas domésticas. Ainda estamos no processo de nos organizarmos, sequer temos todos os móveis. Apenas um trabalhando. Salário menor do que tinha antes. Mesmo com auxílio desemprego que acaba em meses, orçamento ajustado. E uma dívida absurda pra conciliar. Dívida essa, que vem da vontade de viver uma vida normal, minimamente confortável. Atrelada à tal Síndrome de Peter Pan. Querer comprar e consumir tudo que se tem vontade e 'está ao alcance' sem pensar ou sequer medir as consequências.


Crise de ansiedade. Vias de chegar a pânico. Falta de tesão. Literalmente. Muito sono. Muita vontade de dormir. Medo. Vontade de gritar, de desistir, de voltar, de chorar. E sede de consumir mais. E vontade de gastar pra se divertir, pra esquecer, pra aproveitar o que dá. E a dívida aumenta. E as responsabilidades batem. Uma hora elas vão espancar. Enquanto não o fazem, vou fugindo delas. E da realidade. E voltamos ao ciclo.


Pra não dizer que nada mudou, notei que agora estou em uma fase bipolar. Um dia estou bem, rio bastante, faço piada, não penso em nada ruim, e por vezes em nada at all, só vivo. No outro, como no parágrafo anterior. E ainda há dias em que isso tudo acontece. Em um único dia! Posso acordar de péssimo humor, normalmente após uma noite mal dormida (por qualquer razão que seja) e passar a manhã toda tristonho. Daí pela tarde fico de boa. Normalmente, no meu horário de trabalho, fico muito bem. Fazer o que faço é quase sempre essencial para levantar meu humor, me divirto dando aula. Claro que nem todas as turmas são divertidas, mas na maior parte das vezes me faz, no mínimo, esquecer todo o resto. Daí, na volta pra casa, pela noite, volto a ficar pra baixo. E não há esposa ou filha que consigam me levantar por muito tempo. Vale ressaltar que nem sempre é nessa ordem.


Falando em esposa e filha, o pior disso tudo, é descontar nelas. Claro que não é intencional, e claro que elas, eventualmente, perdoam e/ou entendem. Mas é muito ruim, é errado. E, logicamente, eu me culpo muito por isso. E isso piora minha situação.


Um dos, senão o, piores agravantes da depressão, é ter a certeza de que você, o deprimido, atrapalha a vida dos outros ao seu redor. Seja contaminado-os com sua depressão, descontando seu mau humor ou irritação neles, ou pior ainda, fazendo-os sentir culpados por tudo isso. Não dar o amor que você poderia (e deveria) e perceber tal atitude, é a cereja do bolo. Não acho que há amor e compreensão que seja capaz de aguentar isso por muito tempo. Ainda vou descobrir isso.


Some a tudo isso a certeza de que seu orçamento foi explodir em breve. De que as tais dívidas, citadas anteriormente, vão atrapalhar sua vida em muitos aspectos. Tudo isso porque você só queria aproveitar a vida, não se entregar à tristeza que se instala constantemente. Quando não, essas contas se devem ao fato de que muitas delas foram contraídas por puro impulso de quem tenta suprir suas frustrações e necessidades no consumismo. Todo mundo já ouviu aquela história da pessoa que come quando está pra baixo. Da mesma forma existem aqueles que compram, ou simplesmente, gastam dinheiro desenfreadamente. E aí, vem aquela história do ciclo: eu compro por estar ansioso -> acumulo dívidas que não posso pagar -> fico ansioso por me preocupar com essas dívidas -> gasto mais dinheiro que não tenho -> repete


Por mais que esteja vivendo um sonho, um desejo antigo, ainda não estou infeliz. Pelo menos não como imaginava ou gostaria. E tenho muito medo de ter que abreviar esse sonho e viver muito frustrado. E isso é, sim, a ansiedade falando novamente. Sabe-se lá até quando e se ela vai assumir o controle de vez. Mais uma vez. Espero muito que não.

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