Super Bowl LI: o primeiro e inesquecível
Comecei a me interessar por futebol americano há pouco tempo, cerca de uns 4 anos. De lá pra cá, nunca sequer assisti a um jogo da temporada regular ou dos playoffs por completo. Apenas alguns trechos ou os highlights nos programas esportivos que tanto assisto. Tentei assistir a alguns Super Bowls, fui até a um tipo de pub/restaurante aqui perto de casa com a desculpa de assistir New England Patriots vs Seattle Seahawks . Acabou que vi muito pouco (quase nada), já que fui com esposa e amigos e conversamos, bebemos e comemos muito mais que qualquer outra coisa. Além de tudo, fui pra casa antes do intervalo, pois, se não me engano, precisava acordar cedo no dia seguinte.
No ano seguinte até fiquei mais empolgado pra assistir, afinal, seria o de número 50, então seria meio que histórico, um cara (aparentemente muito bom) provavelmente faria seu último jogo profissional e tal. Acontece que, mesmo tendo ESPN no quarto, não pude assistir. Minha esposa e filha já estavam dormindo e não queria claridade nelas pra atrapalhar o sono. Na tv da sala não tinha o canal. E eu ainda não tinha (nem sei se já existia) o Watch ESPN pra ver pelo celular, e mesmo se tivesse, acho que dormiria no meio.
Mas dessa vez, não! Dessa vez eu tenho ESPN na sala e farei um esforço pra ficar acordado mesmo precisando acordar relativamente cedo! Minha esposa até ficou acordada também pra ver o show do intervalo, mesmo não sendo fã de Lady Gaga.
Ok, vamo lá então!
Como eu disse, comecei a me interessar pelo esporte há pouco, então me considero semi-leigo. Curto, e entendo um pouco. Mas se estivesse com alguém que entende bastante do lado ou é pelo menos mais experiente no assunto, teria feito várias perguntas, tipo: o que é um punt e pra que serve / por que acontece? E um fair catch? Por que tem extra point que é chute ao gol (valendo um ponto) e por que tem vezes que é uma jogada de pertinho, pelo chão (valendo dois)? Por que tem vezes que quando para a jogada o tempo também para e tem vezes que não? Quantas tentativas o time pode fazer pra atacar? O que é first down? Ué! O Tom Brady tá correndo pra marcar o ponto?! Mas eu achei que o quarterback só podia passar pra alguém marcar...
Enfim, mesmo com todas essas (e mais algumas outras) dúvidas, continuei no propósito de assistir. Entendo o suficiente, afinal. E se quiser mesmo me aventurar pela área de jornalismo esportivo, preciso aprender coisas e tirar conclusões por conta própria.
Acontece que o primeiro quarto foi bem chato. Nenhum ponto sequer. A defesa do Atlanta Falcons estava inspirada e não deixava Tom Brady nem mesmo pensar, quanto mais atacar.
Ah, só pra constar: eu estava torcendo pro New England Patriots, time do já citado Tom Brady. Escolhi esse time por... por.. modinha. É, pode-se dizer assim. Veja bem, me interessei pelo esporte na época em que o time está em sua melhor fase, sempre chegando às decisões. A maioria dos meus conhecidos que curtem o esporte, torcem pra esse time. Ainda tem como astro um cara que, não sei dizer se é realmente tudo isso que dizem, mas segundo a imprensa especializada, é quase um semi-deus do esporte. Além de tudo, ainda é casado com a Gisele Bündchen! Olha, esse cara, no mínimo, merece atenção e respeito!
Dito isso, prossigo.
Eu dizia que o primeiro quarto foi de muita estratégia, tática e pouca ação, pouca emoção. Talvez nem tanto para um fã experiente, mas sim para um semi-leigo. O comentarista da ESPN até comentou que se alguém tivesse apostado 10 dólares em um 0 a 0 no primeiro quarto, provavelmente teria ganhado algo em torno de 5 mil, pois além de ser algo muito incomum, essas duas equipes tiveram os ataques mais eficazes da temporada.
De qualquer forma, continuei. Mesmo achando que o problema era eu, afinal, algo tão improvável acontecer justo quando eu resolvo assistir ao jogo não pode ser coincidência...
O segundo quarto começa e com ele a emoção, o jogo de verdade. Os Falcons resolvem deixar de lado a tática de não deixar os Patiots jogar e começam a eles mesmo jogar. E terminam a primeira metade do jogo com o placar de 21 a 3, sendo esses pontos do Patriots conseguidos apenas nos segundos finais.
Pra quem é ainda mais leigo que eu, 21 a 3 pode parecer um placar muito absurdo. Na verdade é até elástico, sim, especialmente numa decisão. No entanto, é reversível. Veja, um touchdown vale 6 pontos e a cada TD ganha-se o direito a um extra point (que pode ser mais um ou dois). Ou seja, com 2 TDs o Pats estaria no páreo novamente, e com 3 até viraria o jogo. E aparentemente, o tal do Tom Brady precisa de meia chance pra deixar os companheiros 'na cara do gol'. Entretanto, o moço foi totalmente neutralizado na primeira metade do jogo e quando teve chances, seus companheiros não aproveitaram.
Veio o intervalo e o show da Lady Gaga. Nunca assisti a um show dela por completo, mas sei da fama de espetacular, seguindo os ensinamentos de Madonna e Michael Jackson. Sei também da fama dos Halftime Shows de serem tão espetaculares quanto. Dessa forma havia uma grande expectativa. E na minha opinião, está foi atingida. Achei o show bem legal, com seus singles mais famosos para o espectador comum, que não acompanha sua carreira e um momento no piano mais tranquilo que deixou a espetacularidade do evento aparecer no belo visual. Uma frase do comentarista da ESPN resume bem minha sensação a respeito do show e da Lady Gaga como um todo: 'Eu não acho que compraria um álbum da Lady Gaga, mas certamente eu iria a um show dela'. Exatamente assim.
Ao fim da apresentação, o excelente narrador Everaldo Marques, fez o seguinte comentário: "Lady Gaga, você é RIDÍCULA!". Pobre homem. Ele se esquece de como é a internet, ou pelo menos nunca sofreu com seu lado ruim, pois certamente a conehce bem, visto que usa muitos memes em suas transmissões. Até dizer tal frase. Pra quem não o conhece, a frase pareceu literal, no entanto, basta assistir qualquer transmissão sua, seja em qualquer esporte, que vai saber que ele a usa quando a pessoa que recebe o adjetivo é excepcional, ou pelo menos acaba de realizar um feito de tal importância. E foi essa sua intenção, elogiar a apresentação da artista bem como sua carreira como um todo.
Mas ele se esqueceu de que muita gente estava assistindo ao evento apenas pra assistir ao show da cantora e sequer sabe quem ele era, nunca havia ouvido sua voz e provavelmente nunca ouvirá novamente. Foi o suficiente pra internet inundar de xingamentos ao rapaz. Mas tudo bem, Everaldo. Você é safo, vai sobreviver. Até porque, semana que vem eles nem lembram mais disso. Basta surgir um novo meme no fim de semana e pronto.
Voltemos ao jogo. Os Falcons marcaram mais um TD e aumentaram a vantagem pra 28 a 3. Nunca uma vantagem tão grande assim num Super Bowl havia sido revertida. O que só me levou a acreditar na minha tese de que a culpa era minha. O maior pé frio da história depois de de Mick Jagger. Minha esposa também achando que deveria ser sua culpa, já que só entende quase tanto eu porque assistia a uma série chamada Friday Night Lights, que falava mostrava bastante do esporte, resolveu dormir logo após esse TD dos Falcons.
Somente no último quarto os Pats conseguiram engatar boas jogadas. E num é que o tal do Brady brilhou? Faltando poucos minutos (de acordo com o cronômetro que as vezes para e as vezes não), ele desembestou a acertar os passes mais absurdos e seu time conseguiu dar sequencia às jogadas. Mais do que isso, ainda conseguiu algumas jogadas incríveis. Pra ter uma noção do que estou falando, assista a esse vídeo (não precisa ser todo ele, apenas a partir de 1:25 já basta) e veja essa recepção sensacional dos Pats. Infelizmente não consegui embedar o vídeo aqui, tem que ser pelo link mesmo. Segundo a narração, um lance como esse nunca havia acontecido antes. Até já houve coisas parecidas, mas com esse requinte, não.
E não é que no final do jogo os Pats conseguiram o empate? E mais, ainda nos segundos finais, conseguiram segurar o ímpeto desesperado dos Falcons conseguindo levar a partida para a prorrogação! E adivinhem só? Pela primeira vez na história um Super Bowl foi decidido na prorrogação. O jogo havia ficado louco. Emocionante e louco.
Uma das coisas legais da prorrogação no futebol americano, é que é tipo o antigo golden goal no futebol: quem marcar leva. Quase isso na verdade, pois o jogo acaba com um touchdown. Mas há outra forma de se pontuar, marcando 3 pontos, que seria tipo uma 'vantagem', mas a bola passa pro outro time que tem, por sua vez, a chance de atacar. Dessa forma, o time que começa a prorrogação atacando tem uma leve vantagem em relação ao outro (caso você não saiba, no futebol um ataca e o outro defende, um de cada vez). Porém, ele corre o risco de errar o lançamento ou o outro time roubar a bola e leva um contra ataque fatal. De qualquer forma, a decisão de quem começa atacando é no bom e velho cara ou coroa! A decisão do campeonato, a essa altura do campeonato (risos), começa por uma escolha de sorte. Muita emoção!
No fim das contas, os Pats marcaram o touchdown, não sem mais emoção no fim, pois foi bem chorado, com a bola entrando por muito pouco e só sendo confirmado mesmo no replay, pois ainda havia possibilidade de falta. Pats campeões. Pela 5ª vez. E o Tom Brady? Campeão pela 5ª vez! Sendo eleito pela 4ª vez o melhor jogador da partida de todas as 7 vezes em que disputou o título.
O jogo foi histórico. E além dos números já citados e da prorrogação inédita, houve ainda muitos outros recordes quebrados. Dá quase pra dizer que foi a virada mais sensacional de todos os esportes, de todos os tempos. Mas ainda assim não supera a do Vasco pra cima do Palmeiras em 2000, conforme eu já havia falado em outra ocasião. Mas já é possível, no entanto, dizer que é a maior virada do século, afinal, Palmeiras x Vasco foi em 2000, ainda era o século XX...
Assim, posso afirmar com toda certeza: na noite de ontem passei de um dos maiores pé frio da história para um dos maiores pé quente. Vi um massacre se tornar numa inimaginável virada, uma partida que começou sem emoção virar um jogo épico e vi mais de uma dezena de recordes serem quebrados. Comece a acompanhar a NFL você também. Acho muito improvável que você tenha a mesma sorte que eu, mas vai que...